Dor

A dor é uma companheira da vida humana, 
quando ela vem deixo-a ficar,
não lhe resisto,
não lhe dou aconchego,
deixo que faça o seu trabalho,
evitando que leve pedaços de mim,
porque ela na verdade vem para ensinar,
vem para despertar a ilusão de limitação.
A dor é uma ideia, uma simples ideia,
se a alimentarmos ela cresce e,
toma conta de nós,
possui-nos por inteiro.
Quando doer, deixo que doa,
dói o que tiver de doer,
eu limito-me a ver, 
a estar presente,
embalo a dor no presente e,
liberto-a para partir, tal como chegou,
continuo aqui,
pleno, verdadeiro,
sendo quem sou.

Amor

Livre de ilusões te encontrei,

és o fio condutor do existir,

em cada recanto um sorriso teu,

embalado nos teu braços,

permito-me viver.

O Ser não cabe em mim

Ao despertar para a realidade,
descobri que era maior que a ideia que tinha de mim,
essa ideia era uma limitação,
que vinha acondicionada num corpo
e era orientada pelos pensamentos de uma mente pequena.
O Ser não cabia em mim,
pois este mim,
é um eu ilusório
o Ser é ilimitado, é pleno,
tudo inclui,
mesmo essa ideia de limitação,
o Ser é um campo de possibilidades infinitas,
é um fluxo de amor incondicional,
livre para se experienciar
e se expandir na partilha de si mesmo.
O eu limitado parte ao encontro do Ser,
quando se permite observar,
sendo consciência a tornar ciente a consciência.
Nesse espaço de observação,
o encontro dá-se,
e a ilusão perece,
dando lugar ao que sempre foi,
ao que sempre é.

Viver é

Viver é muito mais que apenas existir,
existir é levantar todos os dias,
e fazer o que é suposto fazer.
Viver é estar presente em todos os momentos,
é ser o sorriso no rosto que ilumina os espaços,
é ser a lágrima que afaga o rosto nos dias tristes.
Viver é estar aqui e em lugar nenhum,
é estar ciente da ilimitação do Ser.
É amar em cada abraço,
em cada olhar.
Viver é perdoar a ilusão do imperdoável,
é despertar do sonambulismo material,
é alimentar o amor-próprio,
que se reflete em cada ser humano.
Viver é poupar nas palavras,
pois estas são insuficientes para expressar,
a imensidão da vida.
Viver é sentir por inteiro,
cada pedaço do Ser.
Viver é,
é.
.

A vida era eu

Andava perdido de mim,

desconhecia quem era,

 e procurava em todos os lugares descobrir-me,

procurava os pedaços do ser que julgava ser.

Desisti de procurar.

Resolvi parar de tanto querer saber,

pois quanto mais pensava que sabia,

mais a confusão se instalava,

a ilusão crescia,

 e ao meu redor espalhado por outros corpos,

procurava o que me faltava,

mas, só via a beleza desses corpos,

e como a beleza nos cega.

Faz-nos acreditar como separados,

como limitados,

e no entanto, acreditamos,

porque é bom,

é bonito de contemplar. 

Só que a beleza não estava nos corpos que via,

mas sim nos olhos que os viam.

A beleza vem de dentro,

é aí que ela reside.

Desistindo da ideia de procurar,

limitei-me a aceitar,

aquilo que brota de mim,

deixei-me levar pelos braços da vida,

e ela cuidou de mim,

confortando-me,

amando-me por inteiro.

A vida era eu.