sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

#49 Reflexo

Não importam os pensamentos que surgem, eles tem apenas a relevância que lhes prestamos. Quem somos de verdade enquanto esse pensamentos abordam a nossa atenção, que liberdade permitimos que tenham para pintar a nossa realidade. Em rédea solta os pensamentos dominam a noção do eu, constituem-se nessa personalidade que nos habituámos a crer ser quem somos. Ela alimenta-se de memórias que servem de referência para aquilo que julgamos viver no presente. Sendo que este quando visto pelo prisma do passado é apenas uma mera recreação e não aquilo que é a verdade do momento presente. Uma ilusão de vida se cria e se perpetua dentro de si, até que o despertar ocorra e a ilusão se desvaneça. Esse despertar pode assumir múltiplas formas e ocorre quando cada um de nós estiver preparado para que ocorra, quando tivermos a capacidade de lidar com as consequências de deixar partir a dormência que faz deambular pela realidade que tínhamos como nossa.
A Sara estava a entrar nessa fase em que o despertar da dormência podia ocorrer, pois estava preparada para deixar cair a máscara de limitação associada a essa personalidade, sem com isso perder o chão que lhe permite experienciar a essência nesta dimensão humana. Ainda que ela não tivesse consciência dessa preparação a realidade estava prestes a dar-lhe provas dessa preparação. E isso iria ocorrer na sessão seguinte com o Ricardo, que assumia o papel de despoletar o dissipar da ilusão da Sara.
A Sara estava satisfeita com o resultados que vinha conseguindo desde que começara as sessões individuais com o Ricardo, sentia que tinha alguém ao seu lado que a compreendia e que podia ajudar a encontrar as respostas que surgiam, pois a cada resposta novas dúvidas emanavam. Dúvidas essas que levavam a uma incerteza sobre o significado de tudo isso, que faziam pensar sobre a interminável busca. Ela interrogava-se se algum dia teria paz, verdadeira paz. Mas a cada sessão uma certeza crescia em si que lhe garantia que estava mais próxima de se encontrar, de se conhecer de verdade. Sem máscaras, sem limites, sem enganos.
A verdade é simples aquilo que a complica é a relação que cada um tem com ela. Por si só ela continua sendo imutável, nada a dispersa ou contrai. Já a verdade de cada personalidade é volátil, varia a cada momento. O que hoje é verdade amanhã pode deixar de o ser. E existem tantas verdades dentro de uma mesma pessoa e de pessoa para pessoa, que perder o tempo e energia a defender estas supostas verdades, é meramente uma ilusão de utilidade. 
No entanto isso faz parte do jogo do ego, esse jogo de busca mas não encontres. Jogo esse que é adaptável ao nível de consciência de cada pessoa, que se molda por forma a manter o seu controle, por forma a alimentar a ilusão de possibilidade de escolha que é dada a cada pessoa nesta realidade humana. Este jogo do ego é parte relevante desta experiência humana e por si só não afeta a essência, ele é parte relevante da presença nesta dimensão. 
Ao despertar da dormência o jogo do ego continua a existir a única coisa que muda de verdade é a forma como cada um desperto se permite jogar o jogo. Passa-se a desfrutar de cada momento do jogo, pelo que ele é, sabendo que nada do que aconteça condiciona o que quer que seja a essência. Assim libertos de temores com desapego pelas consequências, podemos nos entregar para vivenciar plenamente tudo o que se manifesta nesse espaço aberto de consciência que serve de palco a esse jogo.

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